sábado, 16 de janeiro de 2010

Norte do Paraná, Divisa PR/SP, Interior Paulista

Expedição Foz, Estrada Real e Belo Horizonte

Parte 5

O segundo dia começa como a noite anterior, com chuva. E assim o tempo continuou pelo restante do dia. Como não podemos depender do clima para seguir viagem, continuamos pedalando. Aquele velho sobe e desce, sem muitas surpresas, pelo menos até chegarmos na ponte sobre o Rio Piquiri, quilômetros antes de Ubiratã. Tiramos algumas fotos no local e seguimos. Depois, um longo trajeto de subida foi marcante e não foi o único, muitos outros caracterizam o dia que ainda teve um forte vento contra que atrasou a viagem, consequencia: velocidade média menor. Almoçamos antes de Juranda, pagamos um pouco mais barato do que no primeiro dia. Melhor pra mim que espero ter um gasto aproximado de 15 reais por dia até Paraty/RJ.


Ponte sobre o Rio Piquiri


As bicicletas antes de começar um longo trecho de subidas
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Na estrada, nosso objetivo era chegar em Peabiru, mas com muita subida e principalmente o vento contra, ficou difícil seguir o roteiro. Resolvemos parar em Campo Mourão. Antes da entrada da cidade, existe uma placa indicando um caminho para Londrina pelo qual deveríamos seguir, mas eu tinha conhecimento que esse trajeto era novo e que o antigo passava por dentro da cidade, com uma distância menor. Sem pensar muito, seguimos para a cidade, onde pedimos informações e fomos orientados ao posto de combustível J. da Petrobrás. Como de costume e na humildade, falamos da viagem e pedimos um lugar para ficar. Mais uma vez nos indicaram a área do lava-jato, onde mais tarde, alguns trabalhadores também dividiram o espaço. Noite tranquila e com chuva. Segundo dia foram 156 km's pedalados.
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Na manhã seguinte, uma surpresa, o chão da barraca molhado por causa da chuva, a água escorreu justamente onde eu estava acampado, molhando um pouco o saco de dormir e outras coisas, infelizmente. Seguimos em direção à rodoviária e consequentemente ao centro de Campo Mourão. Chove muito e estamos uma cidade de atraso, assim, ignoramos a chuva e tentamos seguir em ritmo forte. Nosso café da manhã se limita às "velhas" bolachas recheadas.
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O Guilherme não consegue se esquentar nos primeiros minutos de pedal, resolve parar um pouco e pede para eu seguir. Sob forte chuva vou em direção à rodovia que segue para Londrina, que seria nosso destino no dia. Assim que estou na estrada, a chuva aumenta e a visibilidade fica complicada. Subidas íngremes marcam esse primeiro trecho até Peabiru, onde o Guilherme me alcança. Na pequena cidade é comum a presença de vários estabelecimentos onde vendedores de panelas de material resistente, talvez, algum tipo de aluminio, se encontram à beira da rodovia que corta a cidade. Eles são vários no perímetro urbano. Também podemos notar a venda de outros itens, inclusive de artesanatos, roupas e brinquedos. Conversamos com uma moça, muito simpática por sinal, que nos apontou uma panificadora, o Guilherme estava com fome e fizemos uma pausa para o café da manhã.
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Chegamos logo em Engenheiro Beltrão, onde não gostaria de ter passado. Claro, não sabia das condições que encontrava-se o acostamento, mas com certeza não era das melhores. Pelo seguinte motivo, lombadas no acostamento em um trecho de quase trinta quilômetros e detalhe, a distância entre cada uma é de menos de cinquenta metros, uma desgraça pra pedalar. Pior do que as estradas no Paraguai. Não recomendo à ninguém. Em muitos momentos pedalamos na pista e na presença de veículos somos obrigados a entrar no terrível acostamento. Infelizmente essa tortura apenas tem fim na cidade de Floresta, onde chegamos na hora do almoço. Estávamos atrasados para quem ainda queria chegar em Londrina no fim do dia.
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Em Floresta o buffet é muito bom e barato, menos de nove reais, como bastante. Após uma pausa de quase duas horas, estamos de novo na estrada. Sentido Maringá a estrada é boa, agora com acostamento, mas um vento contra persistente. Guilherme que até então vinha pedalando comigo, parte na frente. Mas dificilmente ficamos muito tempo sem nos encontrar. De tarde chegamos à movimentada Maringá, onde no dia anterior um rapaz nos recomendou seguir por dentro da cidade ao invés do contorno para seguir até Londrina. Seguindo o conselho, fomos pela Avenida Brasil até chergarmos no posto Ipiranga antes da Avenida Colombo, depois nos direcionamos até a linha do trem, viramos à direita e seguimos para a saída de Londrina, sem muito segredo. Mas estava chovendo e o trânsito movimentado. Quase na rodovia, debaixo de um viaduto, um caminhão passa muito perto da minha bicicleta. Como lembrou o Guilherme, olhar para trás seria o suficiente para perder o equilibrio e provocar um acidente. Mas em uma hora dessa, tem que ter sangue frio e saber o que esta fazendo. Acostumado com esse tipo de situação, não me assustei e segui em frente.
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Ficamos meio perdidos sem saber se estávamos no caminho certo em razão das placas que uma hora nos informa determinado nome da rodovia e logo em seguida se apresenta com nomeação diferenciada. Mas pelo percurso correto, seguimos pela BR 367 até pegarmos a PR 444 entre Mandaguari e Arapongas. Esse trajeto é caracterizado por fortes descidas, em uma delas, atingi a maior velocidade até então, 64,65 km/h. Em outra descida, dois buracos para escoamento da água no acostamento me pegam de surpresa, no primeiro consigo pular, mesmo com a bike carregada, já no segundo, o pneu traseiro bate, chego a sentir o aro, mas nada acontece pra minha sorte. À frente, as subidas na proporção das descidas começam. Em um trecho percebo a aproximação de um motociclista que retorna assim que passa por mim e segue pelo acostamento, dimunui a velocidade e logo está atrás da bicicleta, ao chegar do meu lado diz que não preciso parar, apenas menciona que Deus mandou ele avisar que tanto eu como a minha família teríamos uma transformação, algo muito bom e quando isso ocorresse, era pra eu ter consciência que era Deus quem estava praticando tal ação. Agradeci ao irmão que seguiu seu destino. Continuei pedalando.
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Já era tarde e estava pedalando sozinho, o Guilherme estava muito à frente. Distante de Londrina, resolvemos parar no próximo posto. O companheiro de viagem, achou melhor perguntar se havia algum pela frente, mas como disse que isso não era problema, apenas seguimos. Mas conforme avançávamos na estrada, nada de posto e já estava escurecendo. Foi quando finalmente há uns trinta quilometros de Arapongas avisto o Guilherme na entrada de um restaurante abandonado paralelo ao posto de combustível. O lugar era isolado e o posto fechava às 21 horas. Montamos acampamento traquilamente e ainda usamos o banheiro do posto que ficou aberto por nossa presença. Aproveitamos para tomar banho, água quente. O dia rendeu pouco no pedal, 149 km's, com v/m de 15km/h.


Acampamente frente a um restaurante abandonado na PR 444 entre Mandaguari e Arapongas


Hora da janta

No dia seguinte, o quarto de viagem, novamente chuva, fraca, mas o suficiente pra deixar o pedal mais difícil. Foi complicado vencer ínumeras subidas até Arapongas. O cenário até então não se diferencia muito daquele do oeste do estado, as plantações extensivas são maioria por todos os lados. Com a presença de chuva, em poucos momentos registramos as paisagens. Por decisão conjunta, resolvi sair do posto de combustível na frente do Guilherme, que passou por mim em Londrina, lugar onde quase fui atropelado por uma mulher que se preparava para entrar na rodovia e que olhava apenas na direção de onde vinham os carros, na ausência desses, seguiu e na frente me encontrou, levou um susto e freou bruscamente e logo pediu desculpas ao meu gesto de 'não está vendo!?'.


Topo de uma subida na chegada em Arapongas, com chuva, pra variar.
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Nosso destino agora era seguir o máximo possível até Ourinhos/SP, então continuamos pedalando. Almoçamos em Jataizinho, pequeno município do interior, aproveito e vou ao centro passar no mercado para comprar macarrão e bolachas, o primeiro para reforçar o estoque que vem sendo minha janta. Ainda procuro uma lan house para imprimir minha planilha da primeira etapa. Infelizmente a que eu levei molhou no decorrer das chuvas. Problema resolvido com um plástico comprado em uma papelaria no centro. Feito isso, de volta à estrada.


As fortes subidas no norte do estado, aqui nas proximidades de Jataizinho


Guilherme seguindo na frente

Quase chegando em Cornélio Procópio, o que era difícil em relação à subida, ficou ainda mais extremo. Muito íngremes e longas, elas nos fazem pedalar a uma velocidade abaixo dos 10 km/h, pouco para quem pretende pedalar muito para seguir o roteiro e chegar à Bauru em cinco dias. Com algumas pausas, o tempo fechado, muita paciência e uma pitada de revolta com a estrada, passamos da cidade que fica a 676m de altitude. Para nosso alívio, após esse trecho, fica muito bom pra pedalar, vento muda, a favor, e as descidas são constantes, com subidas curtas, favorecendo o aumento da velocidade média.
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A paisagem começa a mudar, os canaviais são maioria agora, Guilherme não perde a oportunidade de parar e pegar algumas canas e deixar no alforje para degustar durante o caminho. Com muita canseira, conseguimos pedalar até Andirá, penúltima cidade do Paraná antes da divisa com o estado de São Paulo. Outra vez, ficamos em um lava-jato paralelo a um posto, dessa vez foi o Sérgio, segurança do local, que nos permitiu a hospedagem. Ficamos sem tomar banho. Dia muito cansativo, pedalamos um período de noite e paramos com 186 km's.


Guilherme no posto em Andirá, detalhe para a cana pêga durante o caminho.
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Para o dia seguinte ficou uma quilometragem alta até Bauru, portanto, resolvemos seguir cedo, e também combinamos com o Sérgio de que às seis horas estaríamos deixando o local. No quinto dia, ainda estava escuro quando saimos em direção à Ourinhos. Tempo ameaçava chover e não demorou muito para que as primeiras gotas caissem. Guilherme seguiu na frente. Em menos de dez quilômetros meu pneu fura. Que raiva, justamente quando precisava ganhar tempo. Mas infelizmente uma pedra no acostamento fez um rombo na minha câmara de ar. Para minha surpresa, troquei o pneu rapidamente e voltei a pedalar. Muita subida até Cambará, onde o Guilherme faz uma pausa para comprar macarrão instantâneo e bolachas. Continuando, parei antes de Ourinhos em uma barraca ao lado da estrada para tomar caldo de cana, dois copos para reforçar o estômago e não sentir fome tão cedo. Ainda conversei com Alberto, o dono do estabelecimento, me contou suas aventuras de bicicleta no passado, onde o automóvel era mais difícil de adquirir. Ainda me relatou sobre ciclistas que treinam e viajam pela região.


A barraca do Alberto à beira da estrada.
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Passamos o rio Paranapanema, divisa entre PR/SP, infelizmente, nenhuma placa informa a fronteira, após a ponte sobre o mesmo, localiza-se a entrada da cidade de Ourinhos, já no estado de São Paulo, mais uma vez volto a pedalar em terras paulistas. Saímos da BR 369 (parte paranaense) e agora seguimos em direção à Bauru, são várias nomenclaturas da rodovia até chegar em Santa Cruz do Rio Pardo. Primeiro você vai pegar um trecho curto da BR 153 e logo em seguida vai entrar na SP 327 em direção à Santa Cruz do Rio Pardo, após essa cidade a rodovia passa a ser chamada de SP 225 e também BR 369, basta continuar no sentido Espirito Santo do Turvo que não tem erro.

A princípio pensávamos estar no caminho errado, pois o breve percurso na BR 153 nos dá a sensação que estamos indo em direção à Marília, cogitamos a idéia de voltar até o trevo na entrada de Ourinhos e perguntar, mas resolvemos seguir para não perder tempo e pedir informação no próximo posto. Estávamos no caminho certo, ou seja, já havíamos saído da BR 153 e estávamos na SP 327.


Rio Paranapanema, divisa PR/SP.


Ourinhos/SP


Estado de São Paulo
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As estradas em São Paulo também são marcadas pelo sobe e desce. A diferença é que agora estava mais cansado e meus joelhos desgastados por pedalar tantas subidas na relação mais leve em um giro mais constante. Muitas paradas para comer uma e outra bolacha, tomar uma água e seguir 'devagar e sempre' como menciono para o Guilherme que segue geralmente em um ritmo mais acelerado. Ao meio dia, paramos em um restaurante para almoçar, faltavam cem quilômetros para chegarmos em Bauru, uma tarde inteira. Aproveito a ocasião para ligar pra minha tia e avisar que chegaremos por volta das nove ou dez horas da noite. Também ligo pra minha mãe, é sempre bom mandar notícias.
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Na volta para a estrada, um longo caminho e chegamos a Espirito Santo do Turvo, mais um pouco e estávamos em Paulistânia, onde o trajeto passa a ficar péssimo, sem acostamento e com muitos veículos na rodovia, quase 45 km pedalando com uma tensão enorme, atenção redobrada para não ser atropedalo. Para quem tem acompanhado o blog e os relatos no orkut, é quase a mesma situação do norte argentino, onde foram mais de 700 km's de retas sem acostamento.


SP 225, região de Paulistânia, muitos veículos e sem acostamento.


Tempo bom no estado paulista.
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Sem local seguro pra pedalar, vou para estrada somente quando essa fica vaga ou sem veículo no sentido oposto, quando sei que o carro que vem atrás pode me ultrapassar com segurança. Mas nesse trecho é difícil não ter veículo em ambas as partes. Restando pedalar fora da pista em um terreno de terra, buracos e alguns poucos vestígios de asfalto. Indignado com a situação, nem adianta ficar com raiva das subidas que ainda persistem, o jeito é fazer o corpo, principalmente, os joelhos, trabalharem para vencer toda aquela situação. Claro, o psicológico também, mas estava difícil. Em Piratininga, já de noite, passo por uma praça de pedágio, onde pergunto para a funcionária se a responsabilidade do trecho é da concessionária que administra a rodovia. Me respondeu que sim, mas fôra recentemente inaugurada e que aguardavam arrecadação, ou seja, dinheiro do pedágio, para então duplicar e fazer o acostamento. Eu que não volto tão cedo por esse percurso para conferir se as obras foram feitas.
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Após muito esforço, era quase dez horas da noite quando chegamos na entrada de Bauru, onde ligamos o GPS para localizar a casa dos meus tios. Foi um pouco complicado, principalmente por estarmos cansados e estar tudo escuro. Seguindo a rota indicada pelo GPS e pedindo informações para os moradores, antes das 22:30, chegamos na casa dos meus tios com 183 km's no dia e 854 km's desde Foz do Iguaçu. Uma vitória parcial, que não deixou de ser comemorada. É sempre bom estar ao redor de familiares e amigos.
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Agora descansamos até segunda-feira de manhã, quando partimos para Limeira na casa do Estêvão que nos acompanhará pela Estrada Real e também onde concluímos a primeira das seis etapas da viagem.

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4 comentários:

  1. é ... a estrada chegando em bauru eh uma calamidade ... =x

    + eh isso ae ..força.. agora pegarão a melhor estrada do Brasil hehehehehe

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  2. Hahai, assim que possível eu coloco as fotos, aqui não tem entrada USB. Mas aguardem!

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  3. adimirrei a força de vontade de vcs

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