quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Santa Catarina

Expedição de Verão - Parte 3

Ano Novo; outra vez pedalando.

1º de janeiro. Nada melhor do que começar o ano viajando. Estava muito feliz por esse privilégio. Em cinco anos de cicloturismo era o terceiro que passava na estrada. Em 2008 a comemoração foi na Argentina durante a Expedição do Atlântico ao Pacífico. Já de 2008 para 2009 festamos em Angra dos Reis/RJ na viagem Curitiba x Rio. E agora começava realmente um ano novo, onde muitas surpresas me aguardavam.

Despedida. Era hora de arrumar as coisas e agradecer ao João e também à sua mãe que nos ofereceu um café da manhã que foi muito aproveitado. Nosso amigo de Curitiba indicou o caminho que deveríamos seguir para chegar ao Ferry-boat, balsa que iria fazer a travessia até Guaratuba. Não teve muito segredo para chegarmos ao local de embarque, este estava lotado. A sorte é que fomos cortando caminho entre a fila de carros e acabamos sendo os primeiros a entrar. Não pagamos nada pelo transporte e ainda apreciamos uma paisagem exuberante do local.

Ferry-boat Matinhos x Guaratuba.

Alexandre no interior da balsa.

Paisagem durante a travessia.



Hidroavião.

Estávamos em nosso sétimo dia de viagem, o destino agora era Joinville, já em terras catarinenses. Através do warmshowers.org consegui contato com o Cristian que gentilmente respondeu meu e-mail dizendo que poderia nos receber em sua casa. Para quem não conhece, esse site é uma rede de hospitalidade entre cicloturistas que hospedam e são hospedados mundo afora. Muito bem organizado, o site é uma boa dica para quem procura conhecer as pessoas, dicas e ainda economizar, uma vez que o serviço é gratuito.

Mas antes de chegar à Joinville tinha um bom trecho para ser percorrido. Após descermos do ferry-boat chegamos em Guaratuba, saímos direto na avenida principal que corta o centro. O movimento era intenso. Muitos turistas aproveitando para curtir uma praia. Apesar do grande fluxo de veículos e pedestres não tivemos problema no trânsito, apenas pedalamos com mais cautela e seguimos. Não fui à praia, mas a impressão que tive do lugar foi boa, quem sabe um dia volto para ficar um pouco mais.

Quando passamos por Guaratuba já passava das 10h30m e a próxima cidade era Garuva aproximadamente 40 km de distância. A rodovia era boa e o acostamento excelente que somado ao relevo plano favoreceu o deslocamento mais rápido ou menos sofrido. Seja como for, a fome estava batendo e precisávamos parar em algum lugar.

Alguns quilômetros antes da divisa entre Paraná e Santa Catarina, encontramos um simples restaurante. Alexandre estranha a ausência de clientes e logo de cara pergunta para o dono do estabelecimento onde estava o povo. A resposta foi rápida; chegariam logo. A questão é que em pleno ano novo dificilmente alguém iria almoçar num restaurante à beira da estrada, ainda mais, próximo ao litoral. Em todo caso, apareceram alguns poucos famintos.


Restaurante. Foi ai na frente que o Jamanta resolveu dormir e espantar a clientela.

Após a refeição fomos descansar na frente do restaurante mesmo. O Jamanta aproveitou para deitar e dormir feito um mendigo (risos). Eu procurei ligar para alguns amigos e familiares desejando um bom ano novo. Para meus pais eu havia ligado em Matinhos, aliás, foi o primeiro contato que fiz com eles durante a viagem. Hoje, depois de tantas outras viagens bem sucedidas eles acabam ficando mais tranquilos a cada partida.

Até breve, Paraná. Após o almoço não demorou para avistarmos a placa indicando a divisa entre estados. Mais uma para a história. Aqueles eram meus últimos instantes em território paranaense, não sabia quando iria voltar para essa terra que tão bem me acolheu. Importante é que estávamos avançando e chegar em Santa Catarina foi uma grande emoção. Nosso destino final estava há apenas 217 km. Já para chegar à Joinville deveríamos pedalar mais 50.

Mais uma fronteira; Paraná x Santa Catarina.

Chuva. Antes de Garuva o tempo começar a fechar, sinal que teríamos companhia em breve. Viajar de bicicleta é isso, ter que estar preparado para qualquer condição climática. Se parássemos a cada momento chuvoso durante a viagem, ainda não estaríamos nem mesmo na metade do caminho. Falando em caminho, esta região de Garuva nos remete a um ar bucólico, lindo de se ver.

Paisagem na região de Garuva.

Bucólico.

Fico realmente feliz quando vejo essa placa. Chegando em Garuva/SC.

Por coincidência cheguei em Garuva com a mesma condição climática da minha visita anterior, quando fui ao Uruguai na Expedição de Inverno em 2010. No entanto, havia percorrido outro caminho dessa vez, não menos emocionante que a descida da serra pela BR 101, itinerário utilizado outrora.

Infinita Highway. Que sensação pedalar por essa rodovia que corta vários estados através de seu tapete preto interminável. Com chuva começamos nosso trajeto final em direção à Floripa. Com subidas pelo caminho vamos nos aproximando de Joinville que não demora pra chegar. Estamos diante do famoso portal da cidade que depois descobrimos ser a mais populosa do Estado e a terceira do Sul.

Portal de Joinville.

Pelas ruas de Joinville em direção à casa do Cristian.

Antes de sair de Foz do Iguaçu anotei num caderno pequeno todos os telefones e endereços daqueles que se propuseram a nos hospedar. No caso do Cristian, anotei todo o trajeto para chegar à sua casa. Assim, no pórtico apenas liguei para avisar que estaríamos chegando em poucos minutos. Na verdade foram vários minutos. A cidade é realmente grande e a casa do nosso anfitrião era distante de onde estávamos. Com ajuda de pessoas pelo caminho conseguimos finalmente encontrar o Cristian em sua residência.

A família do Cristian nos recebeu muito bem. A data não era a mais adequada para receber visitas desconhecidas, no entanto, ocorreu tudo tranquilo. Conversamos bastante. Essa troca de experiências é algo interessante e uma das melhores coisas em uma viagem de pedalando. Ficamos bem mais informados sobre a cidade e seu povo, por exemplo. Também é incrível como os cicloturistas estão por todos os lados, Cristian nos contou que hospedou alguns, entre eles, conhecidos nossos, como o japonês Sekiji. Ainda ouvimos histórias sobre o saudoso Valdo. Sinto-me orgulhoso em fazer parte dessa turma que pedala por essas estradas infinitas, pessoas que levam na bagagem muito mais que roupas e provisões, carregam experiências de uma vida bem vivida.

Um fato tem que ser relato, pois não era a primeira vez que acontecia. Na viagem para Minas Gerais em 2010 ocorreu conosco em Limeira/SP na casa do amigo Estevão. Nós cicloturistas geralmente estamos com fome em razão do desgaste físico proveniente dos longos quilômetros pedalados. Assim, as horas das refeições são bem desejadas. Contudo, para muitas pessoas é uma hora sagrada, literalmente. Embora eu respeite credos e crenças, não sou religioso, logo não tenho o costume de orar antes de comer. Desse modo, após a mesa preparada pela família do Cristian, fui direto e faceiro em direção ao prato para completá-lo em seguida. Que vergonha! Foi quando ele disse; Agora vamos orar! Então, eu todo sem jeito coloco o prato em seu devido lugar e respeito o hábito deles. Depois o Alexandre me disse que quase riu da minha cara na hora.

Jantar na família do Cristian. Obrigado a todos pela receptividade.

Como havíamos combinado, saímos bem cedo no dia seguinte. Nosso oitavo dia. Cristian fez questão de nos acompanhar até a saída da cidade. Agradecemos muito pela hospitalidade e seguimos. O dia seria todo pela BR 101, destino; Itapema. Na cidade mora o Kiko, outro amigo cicloturista (e também moderador da comunidade Cicloturismo no Orkut), que iria nos guiar até um camping onde a dona é conhecida de sua mãe e assim teríamos um desconto.

Saída de Joinville. Alexandre, Cristian e eu.

Novamente o tempo não foi dos melhores e pegamos chuva na estrada. Almoçamos antes de Balneário Camboriú onde entrei em contato com o Kiko que fez questão de nos encontrar na estrada, o que aconteceu em Camboriú onde logo começou uma forte chuva, pancada de verão. Encontrar o Kiko foi legal, principalmente por fazer parte da nossa comunidade e moderar tantas outras onde a temática é ciclismo.

Forte chuva em Balneário Camboriú.

Nosso guia foi super atencioso e preocupado em nos informar sobre cada lugar onde passamos durante o caminho até Itapema. O trajeto não era novo pra mim, meses antes pedalava por aqueles quilômetros. No entanto, dessa vez um acontecimento novo e inesperado. No alto do morro do Boi após Balneário Camboriú um acidente que acabara de acontecer. Talvez em razão da chuva o motorista perdeu o controle do carro e assim capotou o mesmo, aparentemente não houve feridos mais graves. Mas um sinistro desse porte sempre nos deixa ainda mais cautelosos.

Na subida do famoso Morro do Boi.

No topo da subida uma pausa pra comer as milagrosas bolachas recheadas.

Acidente.

Conforme chegávamos mais próximos de Itapema, Kiko nos mantinha ainda mais informados sobre a região, incrível sua dedicação em não passar nada batido. Mesmo com o tempo fechado muita gente nas ruas, inclusive nas ciclofaixas por onde seguíamos até chegar ao camping. É lamentável que as pessoas ainda não entendam que o espaço é para o ciclista e que aquele lugar “bonitinho” não é para caminhar. Espero que a educação mude essa triste realidade.

Na ciclofaixa em Itapema.

Antes de irmos ao camping, Kiko nos leva para conhecer sua casa, prometera que pagaria um gatorede para nossa recuperação. Muito gente boa. Já no local do acampamento uma conversa com a dona. Kiko explica quem somos e fala sobre o desconto. Então, a surpresa; como a mulher (Dona Neu) havia perdido o marido recentemente e a mãe do Kiko foi uma das que prestou solidariedade, ela em um ato de gentileza, resolveu não nos cobrar nada. Ficamos muito felizes com a notícia, inclusive o Kiko. Nos despedimos e agradecemos muito por tudo.

Eu e Alexandre em Meia Praia, Itapema.

As magrelas.

Os magrelos, com exceção do Jamanta (risos).

Meia Praia, Itapema.

Victoria.

Camping em Meia Praia, Itapema. De frente para o mar.

A felicidade não era apenas por não pagar nada pelo acampamento. Nossa alegria era pelo momento. Estávamos próximo do nosso último dia de viagem e a última noite seria de frente para o mar. Sim, o camping tem uma localização mais do que especial e única em Itapema. Assim, montamos o acampamento e fizemos a janta, cada um dentro de sua barraca com a “porta” aberta apreciando aquele cenário e apenas ouvindo o barulho das ondas. Inesquecível.



Jantando e ouvindo as ondas do mar dentro da barraca.



Pescadores em Meia Praia.



É por isso que amo esse estilo de vida. Bom dia, oceano.



Acampamento privilegiado.

Vida no mar.

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Um comentário:

  1. Yhaaa !!!! \o/

    Fico muito feliz em poder ajudar essa "dupla de doidos" (pela visão dos outros) a completar mais um dia de viagem. O pouco que andei com a dupla (encontrei eles na divisa Itajaí-Bal. Camboriú) já me fez sentir, ainda que em "doses homeopáticas" como é pedalar por muitos quilômetros para chegar a um tão sonhado destino.

    Mais uma vez, fico feliz em ajudar e acabar fazendo parte dessa história. Eu já tinha uma vontade de viajar de bike por ai, e depois dessa data a vontade aumentou ainda mais! A bike própria para viagens está pronta, faltando apenas os alforges e alguns outros acessórios. O trajeto já foi traçado, aguardando apenas a data prevista.

    Quem sabe o Nelson não vai comigo nessa minha primeira viagem ?!?!?...

    Em tempo: faltou as fotos da parada no meu "cafofo" antes de seguir para o camping. ;D

    Abs
    Kiko Molinari - Carros Raros BR

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